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Foto do escritorAssociação das Letras

Leva no bico


Leva no bico o meu brinco que eu nunca mais vou usá-lo

Leva no bico o meu amor, que não serviu, em mim ele só dói

Leva passarinho, coloca no ninho, depois o deixa lá, para acabar

Leva também minha pele. Veja! É sem brilho. Mas eu a desenhei! Leva pra você!

Porém, não se cubra com ela, pois pra isso ela não é eficaz

Algo tem nela que assusta, que repele, mesmo gritando sentir especial

O especial não tem vez nesse mundo, passarinho

Leva no bico, leva com você qualquer órgão que me faça respirar

Me deixa secar no sol, pode levar meu ar

Vou entender se você nunca mais voltar

Não há em mim esse brilho do brinco, que continha um amor, e que quiseram roubar

Ficou só no brinco, circulando na argola, dali não saiu

Um dia, ele esqueceu de estar

Pode levar!

Sabe meus olhos, passarinho?

Esses, deixa aqui. Como uma janela entreaberta, que quem sabe alguém possa espiar

E gostar

Porque a esperança, passarinho, é a coisa mais estúpida do mundo, e é o que me faz acordar

Vai pássaro, antes que eu acabe de falar!

Se você não entrecortar meu piado, eu vou estranhar

Não tenho lá grandes coisas a dizer, não tem orelhas que gostem de escutar

Voa passarinho, leva no bico todas essas coisas!

Mas se ficar pesado, pode soltar.


Leva no bico - Prosa poética da associada Lucy Amary

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