Leva no bico o meu brinco que eu nunca mais vou usá-lo
Leva no bico o meu amor, que não serviu, em mim ele só dói
Leva passarinho, coloca no ninho, depois o deixa lá, para acabar
Leva também minha pele. Veja! É sem brilho. Mas eu a desenhei! Leva pra você!
Porém, não se cubra com ela, pois pra isso ela não é eficaz
Algo tem nela que assusta, que repele, mesmo gritando sentir especial
O especial não tem vez nesse mundo, passarinho
Leva no bico, leva com você qualquer órgão que me faça respirar
Me deixa secar no sol, pode levar meu ar
Vou entender se você nunca mais voltar
Não há em mim esse brilho do brinco, que continha um amor, e que quiseram roubar
Ficou só no brinco, circulando na argola, dali não saiu
Um dia, ele esqueceu de estar
Pode levar!
Sabe meus olhos, passarinho?
Esses, deixa aqui. Como uma janela entreaberta, que quem sabe alguém possa espiar
E gostar
Porque a esperança, passarinho, é a coisa mais estúpida do mundo, e é o que me faz acordar
Vai pássaro, antes que eu acabe de falar!
Se você não entrecortar meu piado, eu vou estranhar
Não tenho lá grandes coisas a dizer, não tem orelhas que gostem de escutar
Voa passarinho, leva no bico todas essas coisas!
Mas se ficar pesado, pode soltar.
Leva no bico - Prosa poética da associada Lucy Amary
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